Conferência Anual do Grupo ‘Organizações e Gestão em Saúde’: “As pessoas são muito mais do que as suas doenças”

2 de Dezembro, 2024

Novos modelos de prestação de cuidados de saúde, recursos humanos e comunicação foram os temas que ocuparam boa parte da conferência que a plataforma estratégica NOVA Saúde promoveu, esta segunda-feira, 25, no auditório da Reitoria da Universidade NOVA de Lisboa.  

O evento foi organizado pelo grupo Organizações e Gestão em Saúde, coordenado por Isabel Craveiro (IHMT), Paulo Sousa (ENSP) e Pedro Pita Barros (NOVASBE), cujo objetivo é gerar evidência a partir do saber interdisciplinar e com isso transformar políticas e aperfeiçoar práticas de saúde. Após as boas vindas pelo Pró-Reitor para a Plataforma NOVA Saúde, Cláudio M. Soares, o encontro começou a apresentação de Cláudia Almeida, investigadora da ENSP, sobre o passado, presente e futuro das Unidades Locais de Saúde (ULS) – um modelo de organização que junta hospitais e agrupamentos de centros de saúde de uma área geográfica e que lança o desafio de olhar para os cuidados de saúde de forma integrada. E os dados que apresentou não enganam: “mais do que a doença aguda, as maiores necessidades prendem-se com o apoio à doença crónica, que tem uma necessidade contínua de cuidados. Daí a importância de olhar para todo o sistema de forma holística, dado que as pessoas são muito mais do que a sua doença.

Estas ULS, que tiveram destaque no lançamento das NOVASaúde Talks, o podcast da Universidade NOVA de Lisboa dedicado às questões da Saúde, visam a integração de várias dimensões, prosseguiu Cláudia Almeida – e aos custos, resultados e experiência do utente será importante ainda, sublinhou a especialista, acrescentar a satisfação profissional: “para pensarmos nos cuidados do futuro, vamos ter de alterar o paradigma. O foco terá de estar, cada vez mais, nas necessidades das pessoas e não dos serviços”. 

“Lost in translation” e outras histórias 

 

As comunicações que se seguiram confirmaram e complementaram a perspetiva. Primeiro, foi a vez de Hanna Pięta, investigadora da NOVA FCSH, apresentar “Migrações, barreiras na linguagem e traduções AI nos cuidados de saúde”, lançando, antes de mais, a provocação implícita no conhecido Paradoxo de Moravec – ou seja, a observação de que o que é fácil para humanos não o é, em regra, para a inteligência artificial e vice-versa. “Aplicar a AI, sem mediação, a contextos de prestação de cuidados tem, assim, esse risco de poder conduzir a diagnósticos errados”, alertou. 

Além disso, frisou, nos dados já recolhidos pelo NOBarriers2Health, um estudo exploratório do Centro de Estudos Ingleses de Tradução e Anglo-Portugueses (CETAPS) da NOVA FCSH, ficou claro que 99 por cento dos conteúdos disponíveis online pelos serviços de saúde estão disponíveis apenas em português com direito somente à tradução automática (e pouco rigorosa!) do Google Translate – ou então com um mês de atraso e sem direito a qualquer atualização.  

Seguiu-se Ana Margarida Barreto, docente e investigador do Departamento de Ciências de Comunicação da mesma NOVA FCSH, que ali explanou os desafios para “Melhorar os sistemas de saúde através da comunicação”. Como adiantou, “ao estabelecermos uma comunicação centrada no doente, temos de repensar o conceito de valor e associá-lo mais aos resultados obtidos do que à quantidade de serviços prestados”.  

“Recursos humanos na Saúde: uma visão da situação” foi o título escolhido por Inês Fronteira, professora da ENSP NOVA cuja investigação é centrada nas políticas e sistemas de saúde e ali apresentou o panorama global, que reflete uma outra questão: “mais que faltarem profissionais de saúde, o que verificamos é uma enorme assimetria na sua distribuição.” 

Do reino da Utopia – ou um sonho chamado ‘NOVA Walk in clinic’ 

Paula Broeiro, médica de família e coordenadora da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados dos Olivais, em Lisboa, e Teresa Luciano, presidente da ULS Almada Seixal, remataram o encontro com partilhas muito concretas das suas experiências, alertando que, para as novas gerações, erguem-se outros valores quando se trata de avaliar a atratividade de uma posição.  

“Pensam no trabalho de forma diferente e valorizam mais a flexibilidade”, sinalizou a responsável da ULS Almada Seixal, depois de a coordenadora da UCSP dos Olivais nos ter já brindado com algo que considerou – pelo menos, por ora, do reino da utopia: “imaginem uma ‘walk in clinic’ da NOVA, que apostasse primeiro nos cuidados de saúde primários – ou seja, na prevenção – e só depois na doença aguda a precisar de cuidados urgentes hospitalares; que se servisse da AI para elaborar modelos preditivos de risco, e que complementasse os seus préstimos investindo na formação e guardando espaço para a investigação.”