Conferência ‘Saúde e Inovação Digital’: “Hoje, já praticamente toda a saúde é digital. Mas vamos continuar a precisar de manter o humano no processo”

5 de Março, 2025

A digitalização da saúde é uma realidade incontornável, mas a componente humana continua a ser essencial. Esta foi uma das principais mensagens da conferência “Saúde e Inovação Digital”, que decorreu no auditório da Reitoria da Universidade NOVA de Lisboa, na sexta-feira, 28, reunindo especialistas para debater os desafios e oportunidades da revolução tecnológica no setor. 

Professor Cláudio Soares, Pró-reitor da NOVA para a área da Saúde

Na abertura do evento, Cláudio Soares, Pró-reitor da NOVA e responsável da plataforma NOVA Saúde, destacou: “Hoje, praticamente toda a saúde é digital. Mas também temos perfeita noção da importância de manter o humano ao longo de todo o processo”. Já José Paulo Santos, professor e investigador da NOVA FCT, além de cocoordenador do grupo Inovação em Saúde, sublinhou os desafios éticos e a necessidade de integrar ferramentas tecnológicas de forma eficaz no setor. “Esta revolução traz desafios da ordem da ética e da integração das ferramentas que prometem soluções eficazes para o futuro do setor”, acrescentou. 

Sérgio Laranjo, investigador da NOVA Medical School, reforçou a inevitabilidade do caminho digital: “A Saúde Digital é o único caminho que temos para avançar”, lembrando que este processo começou há décadas e que levanta questões legais e éticas, sobretudo na partilha de dados em multiplataformas. “O céu será o limite, mas podemos ir muito mais além e daqui a 10 anos estaremos a usar sistemas completamente diferentes”, afirmou. Citando Michio Kaku, professor de física teórica na City University of New York, destacou que “as duas grandes indústrias a serem os alvos preferenciais da digitalização são a Educação e a Medicina”. No entanto, frisou que “vamos ter de manter o humano no loop, porque o importante é que a digitalização nos liberte da burocracia para fazermos melhor o nosso trabalho”. 

Mesa-redonda sobre “O papel dos dispositivos wearable na personalização da assistência médica”

A mesa-redonda “The Role of Wearable Devices in the Personalization of Healthcare” trouxe uma reflexão sobre como dispositivos wearables podem melhorar os cuidados de saúde, desde que acompanhados de maior literacia em saúde, como destacou Ana Londral, diretora do coLAB Value For Health. “Um doente com acesso a este tipo de equipamentos pode gerar dados e só depois ser observado em contexto hospitalar. Mas para tudo isto funcionar, precisamos todos de mais literacia em saúde, para não gerar situações de pânico nem de excesso de confiança”, alertou. 

No período da tarde, o debate centrou-se nos desafios da Inteligência Artificial (IA) na saúde. Vera Lúcia Raposo, da NOVA School of Law, abordou as questões legais, enquanto Ana Londral salientou a necessidade de protocolos de comunicação eficazes. Leonardo Vanneschi, da Nova Information Management School, apontou como a IA pode melhorar diagnósticos e prognósticos, identificando detalhes que poderiam passar despercebidos. “Com todas estas ajudas, o que se espera é que seja possível ver o doente de forma holística, dedicando-lhe mais tempo”, acrescentou Nuno Neuparth, da NOVA Medical School. “Quem me dera já ter uma plataforma que vá recolhendo os dados enquanto converso com o doente, em vez de estar a teclar tudo no computador, o que me obriga a desviar o olhar”. 

O debate acabou com um apelo à formação das novas gerações de profissionais de saúde no uso da IA. “Dizer a alguém para não usar IA é como dizer para não usar a internet”, concluiu o painel, reforçando que a tecnologia deve ser uma aliada na melhoria dos cuidados de saúde. Como rematou Hugo Gamboa, da NOVA FCT – que, com os professores Nuno Neuparth e Leonardo Vanneschi, protagonizou o mais recente episódio do podcast NOVASaúde Talks – UNL , dedicado, precisamente, ao Inteligência Artificial na Saúde – “O médico ficará com a parte mais nobre”. 

No encerramento da conferência, Teresa Magalhães, professora da Escola Nacional de Saúde Pública da NOVA, onde dirige os cursos de Especialização em Administração Hospitalar e Saúde Digital, destacou alguns dos principais desafios da Inteligência Artificial na saúde, sublinhando a importância da qualidade dos dados, da sua interoperabilidade e ainda da necessidade de regulamentação para garantir uma utilização responsável. Mas não só: referiu ainda a relevância da formação – tanto para os profissionais de saúde, que devem compreender o funcionamento da IA, como para os especialistas em informática, que necessitam de conhecimento sobre os dados médicos. Além disso, defendeu ainda uma literacia digital que envolva também os cidadãos na adoção destas tecnologias, e reforçou a importância da saúde digital como um ecossistema mais vasto, onde a IA é apenas uma das muitas soluções.

Como nota final, deixou o desejo de que esta conferência tenha sido uma fonte de inspiração e que, num próximo encontro, os participantes possam apresentar avanços concretos nos seus projetos, contribuindo para resolver desafios reais do sistema de saúde.