O SalivaScan foi uma iniciativa comunitária concebida para avaliar um novo teste de saliva para a COVID-19 desenvolvido no ITQB NOVA. Realizado em escolas públicas de Oeiras, Lisboa, o projeto procurou responder ao desafio da testagem em crianças com menos de 12 anos, que frequentemente consideravam os testes com zaragatoas nasofaríngeas desconfortáveis. As escolas foram escolhidas pela sua natureza inclusiva e a iniciativa centrou-se no envolvimento de funcionários, alunos e famílias, promovendo a participação e recolhendo feedback valioso.
O estudo contou com a participação de mais de 4.445 alunos, tendo sido identificados 80 casos assintomáticos. O teste de saliva, baseado na tecnologia RT-PCR mas utilizando uma química mais acessível, revelou-se uma alternativa não invasiva, económica e altamente precisa ao teste tradicional de referência. Importa destacar que o teste podia ser realizado diretamente a partir das amostras de saliva, sem necessidade de pré-processamento para extração do material genético viral, tornando-o particularmente adequado para rastreios em larga escala em contextos comunitários. A sua facilidade de utilização e caráter não invasivo tornaram-no ideal para crianças, que estavam a iniciar o processo de vacinação e não faziam parte dos protocolos de testagem rotineira nas escolas na altura.
A implementação do SalivaScan começou com um forte apoio da Câmara Municipal de Oeiras, responsável pela promoção da saúde nas escolas locais. Após a aprovação da Comissão de Ética, a equipa do projeto reuniu-se com diretores escolares para apresentar os objetivos e a logística da iniciativa. Os diretores aderiram entusiasticamente e nomearam professores para ajudar a coordenar a testagem. Estes professores desempenharam um papel fundamental na comunicação da importância do projeto aos colegas, alunos e respetivas famílias.
Para facilitar a testagem, foram preparados e distribuídos 9.500 kits de recolha de saliva nas escolas. Cada kit incluía um formulário de consentimento informado e um folheto explicativo, de fácil compreensão, sobre o processo de recolha da amostra. No dia designado, os alunos devolveram as suas amostras de saliva às escolas, onde a equipa garantiu o cumprimento dos protocolos estabelecidos. As amostras foram depois transportadas para o ITQB NOVA para análise. Sempre que se identificavam casos positivos, a equipa contactava os encarregados de educação para confirmação dos resultados através do teste de referência e assegurava a devida notificação às autoridades de saúde. Aplicando uma abordagem semelhante, o teste de saliva foi também utilizado com sucesso na comunidade do ITQB NOVA, demonstrando a sua aplicabilidade em diferentes contextos.
Os êxitos do SalivaScan captaram a atenção dos meios de comunicação, com a equipa a partilhar as suas conclusões em jornais, rádio e televisão. Os resultados foram também apresentados em conferências nacionais e internacionais e publicados numa revista de acesso aberto. Em janeiro de 2023, a equipa organizou uma apresentação pública no ITQB NOVA, seguida de um evento comunitário em Oeiras, onde o público foi convidado a discutir o projeto e as suas implicações.
O sucesso do SalivaScan demonstrou a importância de soluções de testagem acessíveis e de baixo custo. Ao disponibilizar um método não invasivo e fiável para a deteção da COVID-19, a iniciativa ajudou a interromper cadeias de transmissão nas escolas e na comunidade num momento crítico da pandemia. Com a diminuição dos casos de COVID-19 a nível global e a declaração do fim da pandemia pela Organização Mundial da Saúde em 2023, o SalivaScan destacou-se como um exemplo fundamental de como o envolvimento da comunidade e a inovação na testagem podem desempenhar um papel crucial na gestão de crises de saúde pública, fornecendo informações valiosas para a preparação de futuras pandemias.
O esforço coletivo para dar vida a este projeto foi verdadeiramente notável e inesquecível; fomos desafiados a explorar áreas desconhecidas, ultrapassando os limites dos nossos papéis enquanto investigadores.
Catarina Pimentel