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Na primeira pessoa: Hamza Mamuda

Hamza Mamuda é da Nigéria e estava a estudar medicina na universidade de Dnipro quando a guerra rebentou

"Olá, o meu nome é Hamza Isa Mamuda, e sou um estudante nigeriano de Medicina que estava no seu segundo ano de Medicina na Universidade Estadual de Medicina de Dnipro, na Ucrânia.  

Fui para a Ucrânia a 22 de Fevereiro de 2020, e comecei os meus estudos de medicina no dia 1 de Outubro de 2020. Inicialmente, foi difícil mas tudo melhorou ao longo do tempo. Fiz amigos incríveis, muitos agora também a viver em outros países europeus – e dois deles estão atualmente a estudar comigo na NOVA Medical School.  

Durante o segundo ano, por volta do período de exames do primeiro semestre, começaram a circular algumas notícias sobre a intenção da Rússia declarar guerra à Ucrânia - mas a universidade mantinha que era pura especulação, que sempre se disse que a Rússia queria invadir o país vizinho, e não iria acontecer nada. Só que, desta vez, aconteceu.  

Como havia muitos estudantes de todas as partes do mundo a estudar na Ucrânia, perante aquele cenário, as embaixadas começaram a dizer aos seus cidadãos para partirem o mais depressa possível. A Universidade chegou mesmo a alegar que seríamos expulsos se deixássemos a Ucrânia, daí ter esperado mais tempo para sair.   

Eis que, em 24 de Fevereiro de 2022, ainda dormia quando fui acordado por som explosivo e aterrador, ainda não sabia que a Rússia lançara mísseis em todos os aeroportos da Ucrânia. Tivemos medo, claro, todos os voos foram cancelados e ficámos sem saber como sair daí. A universidade cancelou as aulas e passou a transmitir online, mas só pensava em vir embora.  

O meu sonho de me tornar médico parecia cada vez mais longínquo - mas dois dias depois, juntei a um grupo de amigos que embarcou num comboio em Dnipro, a quarta maior cidade da Ucrânia, no sudeste do país, para a fronteira húngara.   

Chegámos à estação de comboios de manhã cedo, a 26 de Fevereiro de 2022, onde lutámos para entrar no primeiro comboio, mas fomos expulsos antes de o comboio começar a sua viagem para dar lugar aos locais – racismo puro. Horas depois, quase que lutámos para conseguir entrar, um comboio apinhado de gente, só com algum espaço nos corredores. Em volta, a tristeza pessoas agudizava ainda mais todo o cenário, já que os homens estavam a tentar por as famílias a salvo, enquanto eles eram deixados para trás.  

Após 25 horas de comboio, chegámos à cidade ucraniana de Lviv, onde tivemos de mudar de comboio para chegar à fronteira húngara. As dificuldades por não ser de nacionalidade ucraniana não pararam, mas em Budapeste conseguimos finalmente ver alguma luz ao fundo do túnel: consegui chegar a Portugal, onde me foi concedida uma Licença de Proteção Temporária, e esta oportunidade incrível de prosseguir o meu sonho de me tornar médico.  

Apesar da barreira linguística, estou a fazer o meu melhor e espero um dia falar português fluentemente como qualquer nacional. De resto, só posso dizer que estou muito grato ao governo português pela proteção e à NOVA pela oportunidade de continuar os meus estudos."