Kanza Shafiq é do Paquistão e o seu sonho é ser médica
“Como qualquer estudante de medicina, só posso ser sensíveis ao infortúnio humano; ao que afeta um povo inteiro e muitos outros em todo o mundo.
Vou contar-vos a minha história e a de outros estudantes de medicina de todo o mundo que procurar realizar um sonho, que é este de cuidar dos outros. Quando soaram os primeiros alertas de bombardeamentos, foi difícil perceber o que estava a acontecer, e encarar a realidade de frente – daí a dificuldade em imaginar que iria ser preciso partir.
Ainda me deixei ficar duas semanas após o início das hostilidades – não estava a ser muito fácil conseguir sair, mas nunca se sabe o que pode acontecer e tinha a minha família cada vez mais aflita. Até que a comida também começou a acabar.
Na altura, o facto de a universidade já não dar qualquer indicação e ter fechado portas parecia significar o fim do meu sonho de pratica medicina. Ainda pensei em tentar regressar para o Paquistão, mas aí as portas da medicina também estariam fechadas para mim.
Em tais momentos de adversidade, não se tem outra escolha senão olhar em frente, mesmo sem saber para onde ir, e ter sempre em conta de que pode encontrar o melhor e o pior.
Tentei encontrar solução para mim, na Hungria, mas em Budapeste não me ofereceram qualquer opção. Segui para Madrid, onde o processo também se prolongou por longas semanas, meses. Até que soube da oportunidade que havia em Lisboa para estudantes internacionais que estivessem inscritos na universidade na Ucrânia. Foi quando pareceu haver uma oportunidade de ser aceite. E vim para cá.
Não conhecia ninguém, foi preciso conseguir alojamento, documentos para poder ter um enquadramento legar e recomeçar a vida aqui – não vou dizer que foi fácil, mas nunca desisti, nem sequer de abrir uma conta bancária.
Contei a minha história a todas a pessoas que estavam sensíveis à dificuldade da nossa situação. Foi assim que pude fazer contactos que me ajudaram a voltar a ter uma vida o mais normal possível. Quando finalmente consegui obter o estatuto de refugiado temporário, candidatei-me a todas as universidades que pude, e de todas as que vi, a universidade de medicina da NOVA foi a que me chamou mais atenção. Tive a impressão de que era algo totalmente inalcançável… Mas nada é inacessível àqueles que se dão ao trabalho de perseguir os seus objetivos. Obrigado, NOVA! “