Esta segunda-feira, dia 30, o auditório da Universidade NOVA de Lisboa encheu-se para celebrar mais um momento de grande relevância académica: a atribuição do título de Doutor Honoris Causa a Maria Leptin, presidente do Conselho Europeu de Investigação (ERC), e a José de Sousa e Brito, figura incontornável da academia jurídica portuguesa.
“É uma honra presidir a uma cerimónia que distingue uma cientista de carreira excecional e de serviço público exemplar”, afirmou o Reitor da NOVA na abertura da sessão, destacando o “trabalho pioneiro nas ciências da vida” de Maria Leptin, que “contribuiu para alargar o nosso conhecimento” e demonstrou como “a ciência fundamental pode iluminar a vida”. Em suma, concluiu, “esta distinção reflete não só a nossa admiração pela sua notável carreira, mas também o profundo alinhamento entre os seus valores e os que defendemos enquanto comunidade académica”.
Os elogios estenderam-se depois a José de Sousa e Brito, reconhecido como um académico cujo legado intelectual moldou gerações. “Há quase meio século que o Professor Sousa e Brito se dedica ao ensino, partilhando não apenas conhecimento, mas também uma rara capacidade de inspirar o pensamento crítico, a reflexão ética e o rigor académico. Com uma carreira marcada por um incansável empenho na busca da justiça e da clareza jurídica, a sua influência transcende a sala de aula, deixando uma marca duradoura nas instituições e nos quadros jurídicos que definem a nossa sociedade.”
Perante uma audiência composta por várias figuras públicas de relevo – como Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa e ex-comissário europeu; José João Abrantes, presidente do Tribunal Constitucional; e a antiga ministra da Justiça, Francisca Van Dunem – seguiram-se os discursos laudatórios e os agradecimentos dos homenageados.
O primeiro elogio foi proferido por Elvira Fortunato, cujo laboratório foi um dos que mais bolsas recebeu do ERC. Relembrando os marcos mais significativos da vida e obra de Maria Leptin, sublinhou como a presidente do ERC “continua a defender a excelência científica por toda a Europa e além-fronteiras”.
Enquanto primeira portuguesa a conquistar uma bolsa ERC, Elvira Fortunato fez questão de destacar a importância das 39 bolsas atribuídas à NOVA e o impacto da criação da Iniciativa ERC Portugal, coordenada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. “Estas iniciativas fazem mais do que alargar as fronteiras da ciência; contribuem ativamente para moldar o nosso futuro coletivo, promovendo a prosperidade e o bem-estar da sociedade.”
Maria Leptin agradeceu e retribuiu os elogios: “A maior fatia de financiamento europeu para a investigação veio para a NOVA, claramente a melhor e mais bem-sucedida universidade portuguesa.” Sublinhou ainda a importância da ciência fundamental: “Muitos não compreendem porque se investe tanto em ciência básica. Mas é esse conhecimento que permite resolver os grandes desafios da atualidade.” E concluiu com dados reveladores: “44% dos projetos ERC geraram conhecimento citado em patentes; 400 novas empresas nasceram a partir de descobertas financiadas por estas bolsas.”
Seguiu-se a homenagem a José de Sousa e Brito. As primeiras palavras foram de Teresa Pizarro Beleza, lidas por Frederico da Costa Pinto: “A sua maior virtude é a persistência”, expressando a sua gratidão pela generosidade pessoal do homenageado, nomeadamente pelo acesso à sua biblioteca. “Sei que o foi comigo como com tantos outros.”
Luís Duarte d’Almeida, autor do segundo discurso laudatório, reforçou esse reconhecimento, intercalando a sua intervenção com excertos poéticos. Citando “The Philosophy of Literary Form”, de Kenneth Burke, evocou a “metáfora da conversa infinita” como ideal do diálogo académico, especialmente nas humanidades e na filosofia analítica, área em que Sousa e Brito sempre se destacou. “A primeira vez que li essa metáfora, a imagem que me veio à mente foi a da biblioteca – a famosa biblioteca – de José de Sousa e Brito.”
E sublinhou o papel do homenageado na formação, ao longo de muitas décadas, de uma comunidade intelectual em várias áreas: “Entrar pela primeira vez numa biblioteca é já entrar numa conversa infinita, e são incontáveis as pessoas que só começaram verdadeiramente a conversar na biblioteca de José de Sousa e Brito.”
No final, o próprio homenageado agradeceu de forma singular: “Fico para sempre devedor à NOVA por me ter permitido ensinar Filosofia do Direito, a minha disciplina favorita.” E reforçou, ao longo do seu discurso, que “não é possível tratar bem juridicamente sem atender às questões filosóficas.”
Como não poderia deixar de ser, a cerimónia terminou com poesia: “Como diz Pessoa, tudo vale a pena…”