Esta terça-feira, 26, o átrio da Reitoria da Universidade NOVA de Lisboa foi palco da mesa-redonda “Nem Mais um Dia Normal”, uma iniciativa do Gabinete de Igualdade e Inclusão em parceria com a APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.
Inspirada na exposição com o mesmo nome, a sessão foi moderada por Ana Ribeiro, do Gabinete de Igualdade e Inclusão, e abordou a persistente normalização da violência contra as mulheres e destacou o papel fundamental da academia na sua desconstrução. Sublinhada a posição pioneira da NOVA como a única universidade portuguesa a integrar os estudos de género nos três graus de formação, os convidados Dalila Cerejo, do Observatório Nacional de Violência e Género da NOVA FCSH, e Daniel Cotrim, da APAV, apresentaram estudos e reflexões sobre a prevalência da violência em Portugal.
Dados históricos e recentes mostram que a violência de género permanece um problema estrutural:
- Em 1995, quase metade das mulheres inquiridas admitiam ter sofrido violência física, psíquica ou sexual.
- Em 2007, ainda um terço das mulheres confirmavam experiências de violência, predominantemente no espaço privado e perpetrada por parceiros íntimos.
- Estudos do Eurostat (2022) apontam um agravamento do problema durante a pandemia, devido ao isolamento social.
Dalila Cerejo destacou ainda o impacto das novas formas de violência, como o controlo através de dispositivos móveis entre jovens, e o uso abusivo de imagens em conteúdos pornográficos gerados por inteligência artificial. Já Daniel Cotrim abordou também o trabalho da APAV no combate à violência online, incluindo o canal de denúncias desenvolvido em parceria com a plataforma Internet Segura e a Polícia Judiciária.
Desafios e avanços
Embora Portugal tenha sido o primeiro país da União Europeia a ratificar a Convenção de Istambul – o primeiro instrumento a nível da União Europeia a criar um quadro legal para acção contra a incidência da violência sobre as mulheres, instituido em 2011 – os intervenientes sublinharam a necessidade de medir a eficácia das políticas públicas e programas de reabilitação para agressores.
Nas palavras de Daniel Cotrim, “não podemos continuar a normalizar a violência contra as mulheres”. Dalila Cerejo complementou: “É urgente desconstruir preconceitos e abordar os novos desafios da violência no namoro e online”.
A exposição “Nem Mais um Dia Normal” continua patente na Reitoria da NOVA até dia 10 de dezembro, rematando assim um programa que se associa aos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra Mulheres e Raparigas, uma campanha global promovida pela ONU e que culmina exatamente na data conhecida por ser o Dia Internacional dos Direitos Humanos.