NOVA de olho nas possíveis futuras pandemias: dos agentes com maior capacidade infeciosa às lições da Covid-19

19 de Novembro, 2024

O nome diz muito sobre o que se passou esta segunda-feira, dia 18, na Reitoria da Universidade NOVA de Lisboa. A Conferência Internacional “Tackling Pandemics: Strategies for Prevention, Preparedness and Response” – ou “Enfrentar as Pandemias: Estratégias de Prevenção, Preparação e Resposta” – reuniu estudantes e especialistas que, cinco anos depois de o primeiro caso de infeção por SARS-CoV-2 ter sido identificado na China, fizeram um ponto de situação sobre o que aprendemos com a pandemia da Covid-19 e as ameaças do mundo de hoje. 

“A Covid-19 não foi a primeira nem será a última pandemia que a humanidade terá de enfrentar. Embora não tenha sido possível preveni-la, foi a Ciência que nos salvou. Será, então, que podemos preparar-nos para futuros eventos do género?” 

A questão, lançada por Cláudio Soares, Pró-Reitor da NOVA que tutela a área da Saúde, marcou o início dos trabalhos, sem esquecer o contexto atual: “Será também preciso trabalhar mais na comunicação, já que a verdade foi uma das primeiras vítimas da pandemia em 2020”. 

 

One Health – uma só saúde 

“As doenças infeciosas são doenças as que poderão ter maior impacto na Saúde, num cenário de alterações climáticas”, afirmou Aleksandra Kazmierczak, especialista em alterações climáticas e saúde humana na Agência Europeia do Ambiente (AEA), sublinhando que as alterações climáticas se apresentam como uma das maiores ameaças à saúde no planeta. “Mais de metade das doenças infecciosas devem agravar-se com os eventos climáticos extremos”, algo que, destacou, nos deve impelir a abordar as questões de saúde de forma holística – a chamada One Health, que integra a saúde humana, animal e ambiental. 

Ricardo Assunção, investigador do Centro Interdisciplinar Egas Moniz, abordou a questão do risco e da preparação contra doenças infeciosas neste cenário, lembrando que “adotar uma dieta sustentável é uma prática ao alcance de todos, sendo saudável para as pessoas e para o planeta”. 

Ao longo do dia, as diversas comunicações desenharam cenários possíveis. Inês Martins Alves, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT NOVA), mostrou como “a vigilância epidemiológica em escolas é uma forma eficaz de detetar variações em vírus”; Rebeca Pabst, também do IHMT NOVA, alertou para o aumento de doenças provocadas por vetores (organismos que transmitem doenças entre seres humanos ou de animais para humanos); já André Peralta Santos, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-NOVA), e Sub-diretor Geral da Saúde, destacou que “em situação de pandemia, a rapidez na intervenção faz toda a diferença”.

 

O risco revisto e atualizado no século XXI 

Paula Patrício, da NOVA FCT, mostrou como os modelos matemáticos podem apoiar decisões em emergências de saúde pública. Alda Correia, da NOVA FCSH, destacou a importância da Medicina Narrativa, frisando que o médico deve ser intérprete e leitor do seu paciente. Carolina Buga, do ITQB NOVA, sublinhou como os coronavírus se tornaram um dos maiores riscos no século XXI, enquanto Diogo Silva, também do ITQB NOVA, revelou como a Inteligência Artificial já está a ajudar os cientistas a desenhar fármacos para pandemias futuras. 

João Paulo Gomes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), falou de modelos para identificar surtos com potencial pandémico, enquanto Paulo Paixão, da NOVA Medical School, insistiu na necessidade de monitorizar os vírus respiratórios. Catarina Pimentel, do ITQB NOVA, alertou para os fungos como sérios candidatos a agentes de uma futura pandemia: “Com a diminuição da nossa temperatura corporal e o aumento da temperatura média do planeta, estão criadas condições que permitem a sua adaptação e infeção em humanos”, afirmou. 

Pensar fora da caixa? Sim, por favor! 

Ao tentar identificar agentes pandémicos potenciais, o evento também deu palco à “epidemia silenciosa” vivida nos hospitais: a crescente resistência antimicrobiana, exposta por Sofia Santos Costa, do IHMT NOVA. 

Isabel Carvalho Oliveira, da Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica, abordou o financiamento europeu em Saúde, assegurando que esta é uma prioridade da UE. Susana Marques, da Pfizer, partilhou a perspetiva da indústria farmacêutica, enfatizando como os tempos de investigação e aprovação da primeira vacina contra a Covid-19 foram determinantes. 

 

Após as intervenções de Inês Saraiva, do Instituto Gulbenkian de Ciência, que apresentou “uma nova estratégia antiviral de largo espectro contra o SARS-CoV-2”, e Juliana Gonçalves, da NOVA Medical School, que sublinhou a importância de melhorar a resposta vacinal na população idosa, o evento terminou com a entrega do prémio para o melhor poster a a Raquel Almeida, cujo poster era intitulado “A novel class of antibiotics against multidrug-resistant Klebsiella pneumoniae – a key tool for the next pandemic”. 

No final, ficou claro que a comunidade científica reafirmou o seu compromisso com a saúde global, lembrando que a melhor forma de agir contra futuras pandemias é… “pensar fora da caixa”. 

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