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Era uma vez 1973: Foi em 11 de agosto que nasceu a Universidade NOVA de Lisboa

A ampliação do Ensino Superior em Portugal, com a consequente criação de mais universidades no país, foi publicada no Diário do Governo em 11 de agosto de 1973. Assim nasceu a Universidade NOVA de Lisboa, feito mereceu vários artigos na imprensa da época 

Viviam-se os tempos da conhecida Reforma da Educação, promovida pelo então ministro da tutela, José Veiga Simão, ainda as universidades portuguesas permaneciam intocáveis como lugar de reprodução das elites, no último ano da ditadura. Insistindo que uma reforma tem sempre como fim servir o povo – “porque um povo mais culto será sempre um povo mais livre” – o ministro começa a falar cada vez mais abertamente da democratização do Ensino Superior.  

Assumindo-se ainda como “intérprete de uma Reforma em que os professores foram os principais aliados”, como declararia à RTP, Veiga Simão fez aprovar a Lei de Bases do Sistema Educativo em julho de 1973 e, no mês seguinte, o diploma que permitiria a expansão do Ensino Superior. Um repto que seria bem acolhido na comunidade, dado que nasceriam, com pouco tempo de intervalo, e nesse mesmo ano, três novas universidades: Aveiro, Minho e NOVA de Lisboa. 

À época, o liberal João Fraústo da Silva era diretor do Instituto Superior Técnico, que vivia tempos conturbados, um rastilho em crescendo desde o final dos anos 1960. A contestação estudantil, com os protestos contra a guerra no Ultramar e contra a gestão das universidades, não parava de subir de tom. Sucediam-se greves e boicotes aos exames, cargas de polícias de choque, detenções... Com o assassinato do aluno José António Ribeiro dos Santos por um agente da PIDE/DGS, em 12 de outubro de 1972, tudo se precipitou e os diretores mais reformistas voltariam a ser substituídos pela ala mais dura do regime.  

Fraústo da Silva acabou por determinar o encerramento do IST e decidiu sair. Seria, pouco depois, desafiado por Veiga Simão para começar os trabalhos de criação de uma nova universidade em Lisboa. 

A Universidade Nova de Lisboa (UNL) seria então instituída com o Decreto-Lei n.º 402/73 de 11 de Agosto e Fraústo da Silva o seu primeiro Reitor. Presidindo igualmente à Comissão Instaladora, seria ele que começaria a projetar a orgânica da instituição e tinha em mente instalá-la, até 1985, no espaço da Quinta da Torre no Monte de Caparica.  

A NOVA NOS JORNAIS DA ÉPOCA 

Dois meses depois da nomeação de Fraústo da Silva, o Diário Popular oferece, na sua edição de 21-09-1973, uma breve biografia daquele que seria o primeiro Reitor da Universidade NOVA de Lisboa.  

“Natural de Tomar, o prof. João José Fraústo da Silva licenciou-se em Engenharia Química Industrial no Instituto Superior Técnico. Foi assistente do prof Herculano de Carvalho [que fora diretor do Técnico e Reitor da Universidade de Lisboa] e bolseiro do Instituto de Alta Cultura na Comissão de Estudos de Energia Nuclear e, mais tarde, na Universidade de Oxford – onde haveria de se doutorar em Filosofia Natural. Ao regressar a Portugal, preparou nova tese de doutoramento em Engenharia Química, no IST, que obteve a classificação de 19 valores.  

Em entrevista ao Diário de Notícias, em 7 de novembro de 1974, Fraústo da Silva faz mais revelações sobre a orgânica da universidade, anunciado que teria 12 bacharelatos e 27 licenciaturas e uma ambição maior: “Um grande centro de estudos e reflexão dos problemas da sociedade portuguesa, em especial nas áreas onde mais se deve fazer sentir o papel intervencionista do Estado”.  

Além disso, confessa ainda, e por oposição às universidades tradicionais – que fazem ensino e investigação como corolário - “gostaríamos que esta, pelo contrário, como sua primeira preocupação, prestasse serviço à sociedade em que se insere e em particular ao setor público, fazendo ensino como corolário”.  

Dias depois, numa grande entrevista ao Expresso, Fraústo da Silva recusa ainda que os sentidos “estrangulamentos administrativos” pudessem impedir “arranque da Nova Universidade de Lisboa” - e faz saber que, nesse mesmo mês, iniciar-se-ia “um seminário permanente sobre cultura portuguesa (…); em finais de dezembro, princípios de janeiro” seria a vez de três cursos de pós-licenciatura “destinados à preparação de pessoal docente das universidades”. 

Nessa mesma entrevista, Fraústo da Silva faz uma série de novas revelações sobre a razão - ou as razões - da localização da universidade na margem sul do Tejo – e que isso estava intrinsecamente relacionada com a própria conceção da universidade. 

“Esta quer-se de serviço e projeção nacional, portanto não lhe convém uma zona de acesso difícil, a partir de qualquer ponto do país. Quer-se também uma instituição com vida coletiva própria: não lhe convém perder-se no tumulto citadino nem isolar-se em qualquer ermo de terrenos baratos...não lhe convém, como “intrusa”, impor a sua presença no meio de urbanizações especulativas e anónimas, nem ser relegada para uma zona industrial degradada”.  Para ainda acrescentar: “Por isso, a oportunidade de articular o seu planeamento com a das novas expansões de Almada, a cargo do Fundo de Fomento de Habitação, foi apanhada com ambas as mãos. (…) Trata-se na verdade de uma oportunidade única. Fazer crescer ao mesmo tempo uma Universidade, e a comunidade que a envolve.”   

É uma entrevista cheia de outras respostas curiosas. Por exemplo, à pergunta “E quando começará a construção?”, o Reitor fundador riposta: “(…) Ainda bem que perguntou quando começará e não quando acabará! Porque, na prática, não acabará nunca.” Tudo para que seja a universidade a “auto-projetar-se", um desenvolvimento “ditado pelas necessidades da investigação e pelo afluxo de discentes”.  Ou quando lhe perguntam pelas dificuldades: “Bem, essa seria matérias para longas divagações e não vale a pena falar de coisas passadas.” O título da entrevista dizia o resto: “Fraústo Silva explica: estrangulamentos administrativos não impedem o arranque da Nova Universidade de Lisboa”.  

INSTALAÇÕES (PROVISÓRIAS...) E UNIDADES ORGÂNICAS 

Pouco mais de um ano depois da publicação inicial no Diário do Governo, em setembro de 1974, ficaria concluído o estudo sobre as 5 áreas científicas a desenvolver: ciências exatas e naturais, ciências humanas e sociais, artes, ciências aplicadas e das tecnologias, ciências médicas e paramédicas. 

Passaria mais um ano e, em 11 de novembro de 1975, tomava posse Manuel Laranjeira como primeiro Reitor eleito. Seria quem completaria a nova Comissão Instaladora com mais dois membros: José-Augusto França e Leopoldo Guimarães. Esse ano letivo – 1975/76 - ficaria, entretanto, marcado pelo arranque da licenciatura em Engenharia Informática nas instalações provisórias, no Seminário dos Olivais. 

Novo ano até que, em novembro de 1977, o Ministro da Educação, Mário Sottomayor Cardia, repartiu a Universidade NOVA de Lisboa e quatro unidades orgânicas: Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), Faculdade de Economia (FE) e Faculdade de Ciências Médicas (FCM).  

Seria depois o terceiro Reitor, Alfredo de Sousa, a constituir as comissões instaladoras das faculdades criadas e a definir os respetivos locais de instalação: a FCT ficaria no Campus de Caparica, a FCSH situar-se-ia na avenida de Berna, a FE haveria de ir para Campolide (depois de funcionar, provisoriamente, no Campo Grande) e a FCM no Campo de Santana.  

Já a Reitoria haveria de ficar sediada no Príncipe Real, em Lisboa, no Palacete Ribeiro da Cunha, onde esteve até 2005, momento em que foi inaugurado o edifício erguido no campus de Campolide.