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Entrevista a Bo Irik da SeaBookings


Entrevista com Bo Irik

Na passada quinta-feira, dia 17 de Março, sentámo-nos à mesa com Bo Irik, uma menina holandesa cujos "pais tiverem a feliz ideia de se mudar para Portugal", para o Algarve, quando tinha apenas 10 anos, para uma agradável conversa sobre empreendedorismo, a sua startup SeaBookings, a forma como gere o seu tempo entre a sua startup e a Landing.jobs e os projetos pessoais que estão para vir.

A SeaBookings nasceu do Algarve...

Exatamente, enquanto holandeses os meus pais sempre nos incentivaram a trabalhar, a ganhar dinheiro, para podermos comprar as nossas coisas, ir aos festivais de verão. Assim, tanto eu como a minha irmã começamos a trabalhar no turismo do mar aos 14 anos, durante os 3 meses de Verão, a vender bilhetes para a observação de golfinhos. Aí, identificámos três situações que poderiam ser exploradas: primeiro, este mercado movimentava bastante dinheiro; segundo, os turistas só podiam tomar a melhor decisão depois de ouvir na rua todos os vendedores; terceiro, era impossível os turistas planearem com antecedência, ainda antes de chegarem a Portugal, que atividades queriam fazer. Posto isto, vimos várias oportunidades que podíamos explorar e criámos a SeaBookings, que é um online marketplace onde o turista pode facilmente descobrir, comparar e comprar as atividades relacionadas com o mar, e ao operador fornecemos visibilidade online.

Ou seja, é uma plataforma que ajuda as marcas a ficarem online...

O nosso objetivo é mesmo ajudar esses pequenos operadores - nós somos o departamento de marketing deles! Nós sabemos o que é ser um operador, já trabalhamos com eles durante muitos Verões, tínhamos uma base de dados, sabíamos o que os turistas procuravam - tínhamos mesmo inside information.

Quando é que a SeaBookings começou?

A SeaBookings começou em Maio de 2013, no final da licenciatura na NOVA da minha irmã. Aí começámos a trabalhar a ideia, com a ajuda da NOVA Idea Competition e a One Academy - que hoje é a Starters Academy. Tivemos a ajuda de muitas pessoas, professores, muito críticos mas com muito boas ideias e tivemos mais duas pessoas na área da informática durante esse tempo. Para mim que vim da área da Economia, não tendo grandes conhecimentos de Gestão foi muito importante esta passagem na Starters. Acabou por me proporcionar uma grande aprendizagem para conseguirmos criar a nossa startup. A SeaBookings nasceu aí e foi aí que ganhou forma - fez-nos desenvolver um plano de negócios sólido.

A SeaBookings só opera no Verão?

A SeaBookings está ativa no ano todo. Embora só esteja ativa em Portugal, somos atingidas pela sazonalidade. O site está sempre online, no entanto há vários operadores que devido ao mau tempo e ao trabalho de manutenção não têm as suas atividades disponíveis, pelo que essas são retiradas do site durante esse período de tempo - enquanto houver operadores a trabalhar, nós tratamos de angariar clientes. Por exemplo, neste mês de Março já mais que duplicámos as vendas do mês de Fevereiro!

Então não faria sentido alargar o portfólio de atividades para outras não relacionadas com o mar?

é uma boa pergunta, é claro que pensámos em várias formas de combater a sazonalidade, mas como o nosso foco é o mar, preferimos "atacar" o hemisfério sul em vez de "apanhar boleia para a terra". Para nós será essa a estratégia para combater a sazonalidade.

Estando para já só em Portugal, quando é que se dará essa expansão?

Em termos de expansão geográfica temos vários fatores que nos fizeram optar pelo Mediterrâneo primeiro - devido ao nosso turista alvo: o holandês, o alemão e o inglês, famílias ou grupos de pessoas, pois são esses turistas que planeiam as suas férias com antecedência e a SeaBookings corresponde a todas as suas necessidades. Em termos de moeda, de grande zona de mar, de impostos... são tudo fatores que nos levam a focar primeiro no Mediterrâneo em vez do Brasil por exemplo.

Como é que se chega ao páblico holandês, alemão e inglês?

é preciso pensar no que é que o turista faz até marcar a atividade. Primeiro sonha com as suas férias, depois vê destinos, compra a sua viagem para Portugal, até que procura "things to do in Portugal"- e aí temos de aparecer em primeiro nos resultados. Ainda não aparecemos, mas estamos a melhorar, já estamos bem no "things to do in Lagos", "things to do in Setábal", mas o in Portugal é mais concorrido. é um processo lento e dispendioso, mas penso que estamos no caminho certo - SEO é mesmo o mais importante. Os Affiliate Partners também podem vir a ter um papel relevante no nosso Marketing, mas ainda não temos as condições reunidas para podermos atacar essa vertente.

é fácil encontrar investidores em Portugal que invistam em nós?

Eu acho que fácil não é a palavra correta, mas é possível. Pelo que vejo à minha volta, todas as boas ideias conseguem dinheiro, seja através de investidores, fundos europeus ou de concursos. Há várias formas de conseguir funding, mas com uma ideia boa e com a equipa certa, fácil não será, mas é possível - ainda que a comunidade de Business Angels ainda seja muito nova e inexperiente, mas há imensas maneiras de chegar até eles e fazer o nosso pitch.

Como é que preveem o futuro em termos de competição, não estando a crescer a um ritmo vertiginoso?

A SeaBookings é o ánico marketplace especializado no mar em Portugal. A nossa competição neste momento passa pelos sites em que se pode marcar qualquer tipo de atividade, que engloba as marítimas, mas atividades como andar de avioneta, de cavalo... mas claro que podemos vir a ser copiados. Ainda assim, nós conhecemos de perto os operadores, trabalhamos com eles durante muito tempo, o que nos leva a crer que construímos aqui uma boa barreira para a entrada de novos concorrentes. Mas claro que temos de crescer o mais rápido que conseguirmos, aumentar a user base exponencialmente.

Como é que a Bo divide o seu tempo entre a Landing.jobs e a SeaBookings?

Desde o acordar até às 13h estou em casa a trabalhar na SeaBookings, depois pego na bicicleta e trabalho na Landing.jobs até ao fim do dia, e quando volto para casa aplico-me novamente na SeaBookings. Funciona bem porque estou em ambientes diferentes e dá-me um certo equilíbrio que tem sido muito produtivo, tanto aplico ideias de uma startup noutra, ainda que a experiência da Landing.jobs tenha um papel muito mais preponderante na SeaBookings que o contrário! Relativamente à minha irmã, está a tempo inteiro na SeaBookings, ainda que trabalhe a partir de casa, no Algarve.

Quando é que será dado o grande passo para a SeaBookings, full-time, mais pessoal?

Para já precisamos de investimento, os contactos com o Business Angel estão bem encaminhados e estamos confiantes. Ainda assim, se acabar por não dar em nada, o mais sensato será esperar até depois do Verão, porque a avaliação da SeaBookings será bastante maior depois deste Verão, além de que precisamos de estar 100% focadas no trabalho "operacional" nesta época e não poderemos estar concentradas também na procura de investimento.

Quais foram os maiores desafios que sentiram na criação de uma empresa?

Certamente a parte de constituir uma equipa: encontrar pessoas qualificadas e talentosas não é difícil, mas encontrar essas pessoas que tenham espírito empreendedor é. Encontrar um co-founder que goste da ideia, tenha as competências necessárias, e que esteja disposto a abdicar de um bom salário para trabalhar em troca de parte da empresa, é mais difícil. Nós neste momento temos um developer que nos tem ajudado com a parte técnica, mas é como freelancer, tendo o seu trabalho a tempo inteiro e não estando disposto a abdicar dele.

Aproveitando a sua experiência na Landing.jobs, como é feita a constituição de uma equipa numa startup numa fase mais adiantada?

Contratando a Landing.jobs... Depende do tipo de perfil, encontrar um bom programador hoje em dia começa a ser difícil, a procura é muita, a oferta é pouca, e portanto ter uma plataforma como a Landing.jobs ajuda bastante. Ainda assim, a rede de contactos é provavelmente o mais importante. As relações que se criam nas universidades, as pessoas que se conhecem nos eventos de networking, conhecer novas pessoas, é mesmo a melhor forma de constituir equipas.

Houve alguma situação em que tivessem pensado desistir?

Não. Está a ser difícil, criar uma startup é muito difícil. Não vivo com excessos, todas as minhas poupanças estão aplicadas na SeaBookings, mas eu vejo isto como um investimento. Não é nada fácil, mas nunca pensámos em desistir porque acreditamos mesmo na nossa ideia e já temos começado a ter frutos, a relação com o Business Angel é boa, este mês de Março também tem superado as nossas expectativas, vem aí o fim-de-semana da Páscoa que já promete bastante... Nunca pensámos em desistir, mas já estamos a pensar noutros projetos, isto é, daqui a uns anos a SeaBookings irá ser comprada por um concorrente e nós não vamos passar a trabalhar por conta de outrem, e portanto já estamos a trabalhar em mais ideias.

Que outros produtos é que se pode adicionar ao portfólio da SeaBookings?

Da perspetiva do operador já estamos a fazer quase assessoria, ajudamos a desenvolver páginas de facebook, websites, ajudando também estes pequenos operadores a também ficar online e com isso ganhamos em comissão. Outra atividade a desenvolver é um sistema de marcações, sendo que hoje é tudo feito manualmente e será um grande passo a ser tomado - há as sobreposições de marcações devido aos vários agentes (hotéis, plataformas, agências) que prejudicam o sistema que está em vigor atualmente. Para o turista, para além do mar há as atividades de rio, cruzeiros, mas são situações que estão apenas a ser consideradas e ainda não são cobertas pela SeaBookings. Numa fase mais avançada, quem sabe se não se criará uma SkyBookings ou uma SnowBookings...

Qual é a melhor parte de se viver em "startups"?

é tudo. Adoro o que faço. Adoro os sítios onde trabalho e desfruto ao máximo porque tudo o que faço é pelo meu bem e da minha empresa. Nem considero isto trabalho. Além disso, trabalho com a minha melhor amiga - que é a minha irmã, na Landing.jobs as equipas são muito jovens, há um grande espírito de equipa e grande dinâmica, todos temos voz lá dentro - num dia podemos estar a fazer alguma coisa e no dia seguinte tudo muda e passamos para uma vertente completamente diferente. Além disso, há grande interação entre os vários departamentos e as várias funções dentro da empresa.

A flexibilidade é uma imagem de marca das "startups", desde que se apresente o trabalho feito...

às vezes saímos mais cedo, outras mais tarde... E a aprendizagem é brutal, fazer um estágio de 6 meses numa startup é incrível, quem tem essa oportunidade, recomendo vivamente, em 6 meses numa startup aprendes mais que numa licenciatura se for preciso. Passas pelas várias partes duma empresa, percebes do que mais gostas e conheces imensa gente. é um must para qualquer pessoa.

Como é que é trabalhar com uma irmã?

Inicialmente eu disse que não à minha irmã. Quando acabou a Starters Academy eu disse-lhe que não iria continuar, para não por em risco a nossa relação. A minha irmã ficou triste, mas chegamos a acordo e eu não disse que não em ir ajudando onde podia. à medida que me ia envolvendo, acabei por me comprometer mais e tem funcionado muito bem. Ainda que haja situações em que possamos discordar, eu sei e respeito que a SeaBookings foi criada por ela e se houver uma decisão que tem de ser tomada em cima do joelho eu confio plenamente no que ela decidir, e respeito a decisão que ela tomar.

Considera fundamental que o poder de decisão esteja entregue a um námero ímpar de pessoas?

Não, não, nem pensar. No nosso caso sempre nos entendemos bem, mesmo quando há discussão acabamos por chegar sempre a um consenso. No nosso caso, até considero que o facto de trabalharmos longe uma da outra ajuda no equilíbrio da nossa relação, não estamos 24 horas por dia no mesmo escritório. é talvez mesmo um dos nossos segredos, a maneira como trabalhamos em conjunto.

Sabendo o que sabe agora, com a experiência que tem, o que é que tinha feito diferente?

Em termos académicos não mudaria nada. Tirei licenciatura em Economia e tirava novamente, adorei o meu curso. Relativamente ao Mestrado em Gestão Internacional na Holanda também foi brutal e repetia! Tendo começado a minha carreira profissional na área da consultoria, penso que foi um ótimo início, embora não seja das profissões mais atrativas, aprendi imenso. Talvez mudasse o tempo em que estive nessa empresa de consultoria, teria dado o passo para o mundo das startups mais rapidamente.

O empreendedorismo é para qualquer pessoa?

Não interessa o background, agora uma pessoa muito técnica deverá juntar-se a alguém que perceba mais de negócios, e vice-versa.

Que pedras é que se puseram no vosso caminho?

No início tivemos uma surpresa desagradável. Começámos com o sistema de marcações, mas descobrimos que o código estava feito de modo arcaico e os operadores também não estavam preparados para o receber. Aprendemos que devemos lançar um produto o mais simples possível, metê-lo no mercado e ir adicionando novas features à medida que temos recursos para o fazer. Gastámos muito dinheiro, tempo e o sistema que desenvolvemos hoje é irrelevante, não será aproveitado para nada. Keep it simple, vai, lança o teu produto, valida e depois vais melhorando!

E que novas ideias podemos esperar para o futuro?

Do meu lado, acho que o segredo para o sucesso é fazermos algo de que gostamos mesmo. Eu gosto de Running, e já criei a Run in Portugal, que é uma agência de viagens para chamar turistas para virem correr a Portugal, seja provas, só por diversão, e ao mesmo tempo tratamos de toda a logística (alojamento, comida). A minha irmã também já tem algumas ideias relacionadas com o turismo. Acho que é nisso que somos fortes, falamos várias línguas, estamos nesta área desde sempre...

Entrevista realizada por Afonso Rolla Palhares Vieira, aluno SBE.