pixel Novo teste permite identificar multirresistências na Tuberculose (com vídeo) | Universidade NOVA de Lisboa

Novo teste permite identificar multirresistências na Tuberculose (com vídeo)

Investigadores da NOVA desenvolveram uma tecnologia de diagnóstico que permite, dentro do mesmo tubo, identificar também as mutações que causam resistência

Em 2012, receberam o Prémio de Mérito Científico Santander Totta/ NOVA pelo desenvolvimento de um teste rápido e mais barato de diagnóstico da tuberculose, baseado em nanopartículas de ouro. Em janeiro, Pedro Viana Baptista, da Faculdade de Ciência e Tecnologia (FCT), e Miguel Viveiros, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), publicaram um artigo em que mostram que, recorrendo ao mesmo método, e dentro do mesmo tubo, é ainda possível determinar se se trata de uma tuberculose multirresistente e especificar que mutações causam resistência.

O estudo, publicado na revista científica Tuberculosis, partiu de genótipos do bacilo da tuberculose portugueses, mas a metodologia de diagnóstico pode ser adaptada a qualquer grupo genético de resistências. A deteção precoce dos casos de tuberculose multirresistente em Portugal – algo que este teste vem agora facilitar – é uma necessidade urgente, já que as estirpes portuguesas apresentam características ánicas, que as tornam irresponsivas aos tratamentos padrão preconizados pela Organização Mundial de Saáde (OMS).

"Sabemos que 75-80% das estirpes multirresistentes em Portugal são do mesmo grupo genético da estirpe Lisboa, que tem características não partilhadas com o resto do mundo", explica o investigador Miguel Viveiros. Foi no IHMT que a estirpe Lisboa foi identificada pela primeira vez, tendo sido caracterizada, em 1999, no âmbito de uma parceria com a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. As razões que a levam a ter uma maior predisposição para a resistência e a centrar-se em Portugal ainda não estão esclarecidas. Mas estão em estudo. "Temos feito todos os esforços para caracterizá-la do ponto de vista científico. Sabemos que apresenta deleções em alguns genes que a tornam mais virulenta", daí a não responsividade ao tratamento padrão da OMS, salienta o bacteriologista do IHMT.

Em 2011, registaram-se 88,7 milhões de novos casos de tuberculose, em todo o mundo, estimando-se 60 mil multirresistentes (19%). No mesmo ano, em Portugal, a incidência ascendia a 22,6 casos por 100 mil habitantes, com aproximadamente 3% de casos multirresistentes, um decréscimo significativo quando comparado com o ano 2000 (25-30%). Foi nessa altura que o IHMT trouxe para Portugal o diagnóstico precoce por biologia molecular e, com o apoio da Fundação Gulbenkian, aplicou-o na área da Grande Lisboa. "Em 24 horas, passou a saber-se se os indivíduos estavam doentes e se eram ou não multirresistentes", diz Miguel Viveiros.

Método mais económico

Com a nova tecnologia de diagnóstico baseada em nanopartículas de ouro, é possível obter o mesmo diagnóstico de forma menos dispendiosa e com uma fácil concretização técnica. "A grande vantagem desta abordagem é permitir sensibilidades superiores às técnicas moleculares padrão (PCR) mas de forma simples e a baixo custo", refere Pedro Baptista.

O primeiro registo histórico da utilização de nanopartículas de ouro remonta a 400 d.C., quando os romanos criaram a taça Lycurgus, uma peça decorativa de bronze, com uma liga metálica, e cujo vidro foi impregnado de pequenos cristais de ouro. Dependendo da incidência da luz solar, muda de cor - do vermelho ao verde. A mesma técnica foi mais tarde utilizada na produção de vitrais em igrejas, recorrendo a microcristais de prata ou de ouro.

Pedro Baptista estava a trabalhar com um sistema de nanossondas, utilizando esta tecnologia para a deteção de ácidos nucleicos, e decidiu aplicá-lo a um alvo relevante "clinicamente e que simultaneamente necessitasse de deteção rápida, barata e específica e com elevada sensibilidade", como a tuberculose.

A técnica continuou a ser melhorada pela equipa da FCT para "aumentar a complexidade de sequências a detetar", permitindo agora também identificar resistências a fármacos usados no combate à tuberculose, refere Pedro Batista. Como explica Miguel Viveiros, "na prática, pegamos nas nanopartículas, que estão funcionalizadas com sequências que identificam o bacilo da tuberculose e com as resistências do bacilo. Se, na amostra doente, existir o bacilo ou o seu ADN, esses alvos interagem com as partículas. Se não existir interação, a solução muda de cor para azul devido à agregação das nanopartículas".

Disponibilizar esta tecnologia em centros de diagnóstico pneumológico pode representar um importante contributo para o exame bacteriológico e médico de uma suspeita de tuberculose. "Desde o Prémio [Santander Totta/Universidade Nova de Lisboa] até à data, a nossa perspetiva sempre foi a de colocar a nossa tecnologia à disposição de quem a possa usar", designadamente estendê-la à rede de laboratórios da CPLP, reforça o investigador do IHMT.

Para isso, os investigadores aguardam na expectativa de que alguma empresa de biotecnologia se interesse pela aplicação deste teste e desenvolva um produto comercial.

O futuro passará por "simplificar o processo de colheita e processamento de amostra até obter o ADN em quantidade suficiente para ser analisado", afirma Pedro Baptista, referindo que isso pode implicar o desenvolvimento de um kit que englobe todos estes passos. Nesse sentido, aplicaram já este método a uma plataforma de papel, que permite receber o resultado numa tira de papel, tornando "o teste de diagnóstico ainda mais simples e barato", uma tarefa realizada em colaboração com o Centro de Investigação em Materiais e o grupo da FCT liderado por Elvira Fortunado.